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Editorial A Tribuna

Dia da libertação

O Brasil precisa, nesse contexto, alinhar-se a esforços internacionais que visem preservar o sistema multilateral de comércio

ATribuna.com.br

3 de abril de 2025 às 06:10Modificado em 3 de abril de 2025 às 06:11
(Reprodução/X/Donald Trump)

(Reprodução/X/Donald Trump)

Batizado pelo próprio presidente dos EUA, Donald Trump, como o Dia da Libertação, o anúncio realizado ontem exigirá alguns dias e análises para a plena compreensão de como ficarão as relações da maior potência mundial com o resto do planeta. A imposição de tarifas de ao menos 10% sobre produtos importados do Brasil, dentro de um pacote global onde há 100 países, inaugura um novo e turbulento capítulo nas relações comerciais internacionais. Ao justificar a medida com a chamada “regra da reciprocidade”, o governo americano mira o coração das cadeias globais de produção e comercialização, sob a alegação de proteger sua economia e corrigir um alto déficit comercial.

Sob a ótica da política interna dos Estados Unidos, Trump reafirmou o discurso protecionista que marcou sua trajetória política desde a campanha de 2016. A retórica de que os EUA têm sido “explorados” por parceiros comerciais encontra, agora, uma expressão concreta e radical: um tarifaço com impacto imediato e direto. O Brasil, como parceiro comercial relevante, acaba penalizado, mesmo sem ter, historicamente, adotado práticas desleais de comércio contra os americanos. O Brasil, que vem tentando ampliar sua presença nos mercados internacionais, se vê agora diante de um novo obstáculo — justamente no momento em que buscava se aproximar dos EUA como parceiro estratégico. A imposição de tarifas tende a afetar setores exportadores brasileiros como o aço, o alumínio, a carne e o agronegócio em geral, segmentos que dependem fortemente do acesso ao mercado americano.

Nesse cenário, o Brasil precisa agir com firmeza, mas sem precipitação. A primeira medida deverá ser buscar, por vias diplomáticas, uma negociação com os EUA que permita excluir alguns setores da medida ou reduzir seus impactos. O segundo passo é intensificar a diversificação de parceiros comerciais, fortalecendo os laços com União Europeia, China, países do Mercosul e outras economias asiáticas. Não se trata de romper com os Estados Unidos, mas de demonstrar que o Brasil não aceitará passivamente esse tratamento.

Além disso, cabe ao Brasil rever seus próprios mecanismos de defesa comercial. O princípio da reciprocidade adotado por Trump coloca em xeque o equilíbrio de regras multilaterais estabelecidas na Organização Mundial do Comércio, e se os EUA adotarem esse princípio como política de Estado, outros países poderão seguir o mesmo caminho, gerando uma espiral de retaliações. O Brasil precisa, nesse contexto, alinhar-se a esforços internacionais que visem preservar o sistema multilateral de comércio.

Em termos de relações bilaterais, o tarifaço marca um momento de inflexão. O alinhamento automático com os EUA, que parte do governo brasileiro vinha promovendo, revela-se agora frágil. É hora de amadurecer essa relação, adotando uma postura de maior assertividade e pragmatismo. O respeito mútuo entre nações deve basear-se no diálogo, na cooperação e em interesses compartilhados — não na imposição.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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